Imagine-se na seguinte situação. Você está em casa ou no carro, escutando o programa de rádio de maior audiência local e, de repente, o locutor para tudo e começa a narrar, como se fosse ao vivo, uma invasão alienígena a menos de 60 quilômetros de sua residência.Detalhe: em uma época em que não existia internet nem telefonia celular. O que você faria? Imaginaria que era o final do mundo, ficaria em pânico e pediria perdão por todos os seus pecados (ou não, como diria Caetano Veloso)?
Correria para o campo de pouso alienígena para tentar manter contato ou fazer logo amizade com os seres de outro planeta? Muitos sabem que essa situação foi vivida na costa leste dos Estados Unidos em 1938, durante a transmissão da novela “A Guerra dos Mundos”, de H.G. Welles, transmitida pela Rádio CBS, na voz de Orson Welles.
Agora, o que muitos não sabem é que existiu um produto brasileiro que também causou comoção e pânico. Claro, obedecendo às devidas proporções.Em 30 de outubro de 1971, a rádio Difusora AM, de São Luís, fez uma edição de “A Guerra dos Mundos”.Na época, os idealizadores do projeto queriam, de um lado, aumentar a audiência da rádio AM, que já enfrentava a televisão. Do outro, provar que mesmo diante de novos veículos, o rádio ainda tinha um forte apelo popular, capaz de causar comoção ou pânico.
Essa história agora virou o livro “Outubro de 71: memórias fantásticas da Guerra dos Mundos”, cujo lançamento aconteceu na quarta-feira na Universidade Federal do Maranhão (UFMA), em São Luís.O programa provocou apenas inquietação na cidade e em vários recantos do interior do Estado, agravamento do estado de saúde de pessoas nervosas e uma série de outros danos que obrigaram as autoridades a tomar providências”, criticou um jornal na época.
A invasão alienígena no Maranhão foi narrada dia 30 de outubro de 1971, um sábado pela manhã, dia do aniversário da Difusora AM.O roteiro foi construído pelos profissionais Sérgio Brito, Elvas Ribeiro (conhecido como Parafuso), Manoel José Pereira dos Santos (o Pereirinha), José Branco, Rayol Filho, Bernardo de Almeida, Reynaldo Faray, José Faustino dos Santos (o Jota Alves) e Fernando Melo.
Os alienígenas
Era para ser uma manhã normal. Durante o programa “Paradão – As músicas que você classificou”, que tocava os maiores sucessos na época, entre os quais Gal Costa, Paulo Sérgio, Aguinaldo Timóteo e The Fevers, surge a vinheta da Difusora com uma notícia extraordinária, interrompendo a parada de sucessos: professores norte-americanos avistaram explosões vindas de Marte por volta das 5h da manhã, horário de Brasília.
As explosões eram partículas de hidrogênio em direção à Terra. Informação essa que foi “confirmada” pelo professor fictício Mário Cordelini, do Observatório nacional do Rio de Janeiro.No transcorrer do programa, os produtores recorreram às “transmissões” da Rádio Repórter do Rio de Janeiro e afirmaram que estavam em sintonia com a BBC de Londres, dizendo que ambas haviam confirmado a notícia de que objetos voadores não-identificados estavam chegando à região Sudeste.
“Os Estados Unidos são os mais visados”, disse o locutor sobre a chegada das tropas alienígenas. Em meio a “problemas de transmissão” e “muitos ruídos”, os repórteres da Rádio Difusora AM narraram a chegada de objetos desconhecidos chegando a São Luís.Os repórteres conseguiram até trechos dos diálogos das “torres de controle” do Aeroporto Marechal Cunha Machado, na capital maranhense.
Os repórteres também "conseguiram" entrevistas com testemunhas que tinham avistado os objetos voadores não identificados.
Um destes objetos tinha um formato de cilindro e pelo menos 30 metros de diâmetro. “Eu nunca vi nada parecido”, dizia o repórter Jota Alves, durante a transmissão da “invasão alienígena” no Maranhão.A rádio Difusora AM teve “problemas” na transmissão, duvidando da integridade física dos repórteres em campo. Até mesmo o diretor da rádio, Fernando Costa, entrou no ar afirmando que “poderemos a qualquer momento sair do ar”.
“Agora é necessário que falemos com os senhores. Mais do que nunca devemos ter fé. Fé e coragem”.
Ao final do programa, os locutores confirmaram que era tudo uma brincadeira. O programa sobre a “Guerra dos Mundos” durou aproximadamente uma hora.Pouco tempo depois, a rádio foi invadida pelo exército e tirada do ar por algumas horas.
Os efeitos
Moradores de São Luís que viveram aquele episódio lembram do susto que tomaram na manhã daquele 30 de outubro de 1971.“A gente ficava esperando informações mais concretas. Era complicado. Teve gente que pensou em sair da cidade”, descreveu o comerciante Alberto Silva, de 60 anos.
“A minha família estava desesperada. Mas quando disseram que era uma brincadeira, tivemos uma sensação de alívio e revolta contra a rádio”, complementou José Ribamar Lima, aposentado de 71 anos.
No dia seguinte, jornais de São Luís davam como manchete “Ficção Científica alarmou população” e “Fim de Mundo do Bacelar”, em referência a Magno Bacelar, então presidente da Rádio Difusora AM. “O programa provocou apenas inquietação na cidade e em vários recantos do interior do Estado, agravamento do estado de saúde de pessoas nervosas e uma série de outros danos que obrigaram as autoridades a tomar providências”, criticou um jornal na época.(Fonte: IG)
O Livro
A obra é financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Maranhão – FAPEMA, com o apoio do Museu da Memória Audiovisual – MAVAM, resultado da pesquisa acadêmica realizada sob a coordenação do Profº. Dr. Francisco Gonçalves, do Departamento de Comunicação Social da Universidade Federal do Maranhão – UFMA.
O grupo orientado por Francisco Gonçalves é formado pelos comunicólogos Aline Cristina, Andréia Lima, Elen Mateus, Kamila Mesquita, Karla Miranda, Mariela Carvalho, Romulo Gomes e Sarita Bastos. Eles realizaram um trabalho aprofundado de resgate da memória do rádio maranhense, tendo como objeto de estudo o programa especial veiculado pela Rádio Difusora na São Luís de 1971, que narrou a invasão de alienígenas na Terra.
Para compor o material que integra Outubro de 71, a equipe entrevistou as pessoas que fizeram a emissão radiofônica da Difusora; elaborou, a partir disso, um perfil biográfico de cada um deles; colheu informações sobre o contexto social e institucional em que o programa esteve inserido e, por fim, recuperou e disponibilizou o roteiro e o áudio do programa maranhense.
O que foi “A Guerra dos Mundos” – Para comemorar o Dia das Bruxas, a emissora norte-americana Columbia Broadcasting System – CBS transmitiu, no dia 30 de outubro de 1938, uma versão radiofônica da obra homônima de autoria do inglês H.G.Wells,
O programa Radioteatro Mercury, com roteiro reescrito por Orson Welles, ficou conhecido como “rádio pânico”, tamanho o impacto que esta peça adaptada para o rádio teve na vida dos estadunidenses. O formato mixava elementos ficcionais e jornalísticos para noticiar que o nosso planeta estava sendo aniquilado por extraterrestres.
A Rádio Difusora planejou, três décadas mais tarde, fazer uma edição de “A Guerra dos Mundos” em São Luís. Os profissionais Sérgio Brito, Elvas Ribeiro – o Parafuso, Manoel José Pereira dos Santos – o Pereirinha, José Branco, Rayol Filho, Bernardo de Almeida, Reynaldo Faray, José Faustino dos Santos – o Jota Alves e Fernando Melo construíram juntos a ideia de que o rádio ainda possuía forte apelo público, um lugar firme no século XX e potencialidades a serem exploradas. A data carregava em si todo o simbolismo inerente à versão que inspirou o programa – era 30 de outubro de 1971 – e a Difusora comemorava aniversário naquele exato dia.
A convite de Magno Bacelar, dono da Difusora na época, o ambiente idealizado por Sérgio Brito - coordenador do projeto pensado para o solo maranhense -, levou a população não só a crer que estava sofrendo um ataque alienígena, como também começava a presenciar o fim do mundo. A comoção foi tamanha, que a sede da emissora chegou a ser ocupada por tropas do exército.
Com prefácio do pesquisador Eduardo Meditsch, Outubro de 71 apresenta os bastidores da produção de “A Guerra dos Mundos” na capital do Maranhão; curiosidades sobre a construção do roteiro; depoimentos que retratam o estado nos anos de 1970; além de histórias pessoais de cada profissional envolvido no projeto.
Para o lançamento do livro foi produzida uma fanpage, onde há informações, fotos, atualizações diárias sobre a pesquisa, sorteios de exemplares, além da venda online do livro. A leitura de Outubro de 71 levará o público a refletir sobre o papel social e cultural do rádio em meio às transformações decorrentes do advento das novas tecnologias de comunicação.(Fonte: FAPEMA)
Os vídeos
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